segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

TONGA DA MIRONGA DO CABULETÊ


O significado na lingua NAGÔ da expressão

"na tonga da mironga do cabuletê"

e seu uso na letra da música de mesmo nome é bem próprio do espírito livre e travesso do poetinha Vinicius de Morais que deve ter rido muito cantando isso!


1970

Vinícius e Toquinho voltam da Itália onde tinham acabado de inaugurar a parceria com o disco “A Arca de Noé”, fruto de um velho livro que o poetinha fizera para seu filho Pedro, quando este ainda era menino.

Encontram o Brasil em pleno “milagre econômico” da ditadura militar. A censura em alta e a Bossa em baixa.

Opositores ao regime pagando com a liberdade e a vida o preço de seus ideais.

O poeta é visto como comunista pela cegueira militar, e ultrapassado pela intelectualidade militante que, pejorativa e injustamente, classifica sua música de "easy music".

No teatro Castro Alves, em Salvador, é apresentada ao Brasil a nova parceria. Vinícius está casado com a atriz baiana Gesse Gessy, uma das maiores paixões de sua vida, que o aproximaria do candomblé, apresentando-o à Mãe Menininha do Gantois.

Sentindo a angústia do companheiro, Gesse o diverte, ensinando-lhe xingamentos em Nagô, entre eles:

“tonga da mironga do cabuletê”,

que significa

“o pêlo do cu da mãe”.

O mote anal e seu sentimento em relação aos homens de verde-oliva inspiram o poeta.

Com Toquinho, Vinícius compõe a canção para apresentá-la num show no Teatro Castro Alves. Era a oportunidade de xingar os militares sem que eles compreendessem a ofensa. E o poeta ainda se divertia com tudo isso:

“Te garanto que na Escola Superior de Guerra
não tem um milico que saiba falar nagô”.
_____________________
Fonte: Vinicius de Moraes: o Poeta da Paixão; uma Biografia. São Paulo: Companhia das Letras, 1994.

Veja a letra da inspirada canção da dupla Vinicius e Toquinho:

Tonga da Mironga do Cabuletê

Eu caio de bossa, eu sou quem eu sou
Eu saio da fossa, xingando em nagô
Você que ouve e não fala
Você que olha e não vê
Eu vou lhe dar uma pala,
Você vai ter que aprender
A tonga da mironga do cabuletê
A tonga da mironga do cabuletê
A tonga da mironga do cabuletê
Você que lê e não sabe
Você que reza e não crê
Você que entra e não cabe
Você vai ter que viver
Na tonga da mironga do cabuletê
Na tonga da mironga do cabuletê
Na tonga da mironga do cabuletê
Você que fuma e não traga
E que não paga pra ver
Vou lhe rogar uma praga
Eu vou é mandar você
Pra tonga da mironga do cabuletê
Pra tonga da mironga do cabuletê
Pra tonga da mironga do cabuletê

2 comentários:

Coletivo Cidadãos disse...

Adorei esta tradução, tão tardia. Não sabia o que queria dizer, na minha adolescência, mas sempre intuí algo do gênero. Mas é muito melhor do que a encomenda!

Você comentou com uma palavrinha a música Oyfen Veig Shteit a Boym no meu blog, fui ver quem você era, adorei a sinceridade bem-humorada e fina do seu perfil, mas lá não estava o seu email. Complicações de blogs.

Prazer em conhecê-lo.

meu email é maysablay@yahoo.com.br.
Abraços.

Isaac Feingold disse...

igualmente...e o meu é if.feingold@gmail.com