segunda-feira, 16 de julho de 2012

VELHICE...


Um casal de velhinhos fazia 65 anos de casados e foi a um restaurante festejar.
Diz o velhote:
- Minha rainha, onde queres que nos sentemos?
- Aqui, diz a velhinha.

- Princesa, queres um aperitivo?
- Sim, obrigada.
- Meu anjo, o que te apetece comer?
Ela pede o menu e faz o seu pedido.
- Meu doce, que vinho preferes?
O garçom mal podia acreditar no que ouvia.

A senhora vai ao banheiro e ele aproveita para falar com o velhinho:
- Que coisa linda! Como o senhor ainda consegue tratar a sua esposa com essas palavras tão carinhosas ao fim de tantos anos? Rainha, princesa, anjo, doce... Estou admirado!

O velhote olha o garçom nos olhos e responde:
- Sabe o que é, eu não consigo me lembrar do nome da véia...

sábado, 7 de julho de 2012


Folha de São Paulo, 18-out-2011, caderno Equilíbrio, página 2, seção Outras Ideias

Fico te devendo


Michael Kepp - mkepp@terra.com.br

--------------------------------------------------------------------------------

Brasileiros usam os dribles mais inventivos para se esquivar de acusações e compromissos

--------------------------------------------------------------------------------

Deixar de assumir a responsabilidade pelos próprios atos e compromissos é uma falha universal. Mas, no Brasil que eu amo, essas esquivas são tão corriqueiras e escorregadias que mostram como esse povo institucionalizou e aperfeiçoou o truque de tirar o corpo fora.

Os brasileiros são craques em transferir a culpa. Veja uma manchete do "Globo": "Estradas nunca mataram tanto quanto neste Carnaval". Responsabilizar as rodovias absolve os motoristas imprudentes e o governo, que não as recapeou.

Uma vez, um amigo que chegou tarde a um encontro colocou a culpa no transporte público: "Não atrasei. Foi o ônibus que demorou a passar". E, quando lembrei meu enteado, pianista, que eu ainda não recebera o presente – um pequeno tambor – que ele me trouxera de sua turnê africana, ele me falou que decidira ficar com o instrumento, dizendo: "Dançou".

Os brasileiros são capazes de antropomorfizar qualquer objeto para culpá-lo de uma falha humana, às vezes no interesse de cordialidade ou de suavizar a situação.

Uma vez, na São Paulo Fashion Week, o assistente de uma "stylist", ao entregar um vestido sem o cinto no camarim da modelo, explicou: "O cinto não veio". E um funcionário de um mercado driblou o deslize de não ter estocado papel higiênico, produto essencial, contemporizando: "Tem... Mas está em falta".

Diante da imprensa, um tira que "efetuou disparos" contra a vítima desarmada transfere sua culpa com frases como "foi uma fatalidade", "o elemento faleceu" ou, pior ainda, "entrou em óbito". Tradução: "Deus tirou-lhe a vida; eu só fiz os furos".

Um locutor de futebol explica por que seu jogador preferido chutou a bola para fora: "O campo estreitou" ou "O campo acabou". Se seu time perde, anuncia que "deixou de ganhar".

Brasileiros usam os dribles mais inventivos para se esquivar de acusações e compromissos. "Imagina!" refuta uma acusação verdadeira ou falsa. "Sumiu!" transfere o peso do sumiço para o outro. E "Houve um desencontro!" é o álibi que alguém usa quando foi ela quem deu o bolo.

Se alguém que acabei de contratar me dá como prazo "deixa comigo" e o prorroga com "um dia desses", eu me resguardo com uma frase que começa com "é o seguinte...", prossegue com "não deu" e acaba com "fico te devendo", que, como "fica para a próxima", empurra qualquer compromisso para o dia de São Nunca.



MICHAEL KEPP, jornalista americano radicado há 28 anos no Brasil, é autor do livro "Tropeços nos Trópicos - crônicas de um gringo brasileiro" (editora Record)